O Editor

Manuel Soares Bulcão Neto

MANUEL SOARES BULCÃO NETO (1963). Fortaleza – CE (Brasil). Filho de João e Eunice. Pai da Lígia e do Ulisses. Formado em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Analista Judiciário do Tribunal Regional do Trabalho da 7ª. Região. Também é autor de ensaios literários: As esquisitices do óbvio (2005), Sombras do Iluminismo (2006), A eloquência do ódio (2009) e Contra o princípio copernicano (E-book - formato ePUB -, Editora Emooby, 2012).

"Para examinar a verdade, é necessário, uma vez na vida,
colocar todas as coisas em dúvida o máximo possível."

René Descartes



CONTRA O PRINCÍPIO COPERNICANO (SINOPSE)



Foi com a corroboração de uma das premissas da hipótese heliocêntrica de Nicolai Copérnico (1473-1543): a de que a Terra não é o centro do universo – hipótese apresentada em sua obra póstuma De revolutionibus orbium coelestium –, que se deu início à desconstrução do mito do homem como criatura dileta de Deus (feita à Sua imagem e semelhança), bem como da sua versão laica: o antropocentrismo.

Outros golpes no narcisismo da espécie humana se seguiram: a descoberta astronômica de que o nosso Sol é tão somente uma estrela mediana entre centenas de milhões de outras que compõem a Via Láctea; que esta, por sua vez, é uma galáxia em meio a uma profusão de galáxias – cerca de oitenta bilhões somente no universo observável –, difusa num espaço que não possui ponto privilegiado; que o homem e os símios modernos evoluíram, mediante mecanismos cegos, de um mesmo ancestral primata; que, de acordo com Freud, a razão – faculdade de que tanto nos orgulhamos – tal como a litosfera “não passa de” fina e instável camada, sujeita a terremotos e maremotos provocados por forças subterrâneas: inconscientes, irracionais, muito mais poderosas…

Esse princípio copernicano (*), por uma época, revelou-se eficaz como antídoto de ideologias peçonhentas (o teocentrismo feudal e seu hierarquismo autoritário). Até o momento em que, incrustada nas ciências, a criptorreligião cientificista (versão moderna do que Nietzsche definiu como a hybris da razão: “incontrolado impulso cognoscitivo” que “barbariza do mesmo modo que o ódio pelo saber”) veio a agir como solvente do seu princípio ativo. E não foi a inocuidade o resultado dessa ação — de tanto servir de álibi de jogatinas políticas (quando a Verdade científica justificava qualquer aposta e em que os homens – matérias-primas de milenarismos laicos – então considerados nada além do que bichos…), depois de certo tempo só surtia efeito colateral ou nocebo. Antes panaceia; agora veneno. Ou, no mínimo, remédio com data de validade vencida. Que seja enterrado — porém, como disse Gramsci em relação ao determinismo da ortodoxia marxista, sepultado com todas as pompas que merece. Quanto aos fatos em que se baseia, carecem de nova interpretação:



Se no continuum infinito não existe ponto privilegiado, então, pela mesma razão, quaisquer pontos do espaço-tempo (considerados “um a um”) são seu centro e sua medida.



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(*) “A ciência nos ensina que, quanto mais aprendemos sobre o mundo, menos importantes somos”. É este o enunciado do princípio copernicano, também conhecido como princípio da mediocridade cósmica. Ora, ao reduzir o homem a um ponto matemático, a um fantasmático infinitésimo sem nenhuma consistência lógica, esse princípio alimentou indiferença ontológica (somos insignificantes, efêmeros e gratuitos), bem como o amoralismo das supostas “expressões políticas do conhecimento científico” (darwinismo social nazista, socialismo “científico” stalinista, ultraliberalismo fisiocrático), para os quais os homens reais e concretos não passam de coisas (mercadorias) regidas pelas leis do acaso, ou autômatos sem alma, cobaias, semifabricações, instrumentos falantes, reses de um novo tipo de gado ou tão somente água suja, lama.

É preciso que esse princípio seja questionado cientificamente.



Manuel Soares Bulcão Neto

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